You’re my Valentine
Conheci-te em casa dos meus avós. Tinha 12 anos e mal te vi soube que eras o homem da minha vida. Estavas na casa dos 40 e ficaste amigo do meu pai.
Olhavas para mim e rias-te, ó António a tua filha é um bocado parva.
Corava e ia buscar um lençol a fazer de vestido de noiva. Sonhava com o nosso casamento e com o primeiro beijo, que imaginava serem no mesmo dia.
Cresci, fui estudar para a cidade, namorei, casei-me e penso que me esqueci de ti.
Tive uma filha para salvar um casamento que nunca começou direito. Decidi batizá-la na aldeia. Saudades de quando tudo era simples. Saudades de sorrir para dentro até libertar uma gargalhada estridente…
Entrei no café, sozinha, o meu marido detestava o campo. Ninguém me reconheceu e eu não reconheci ninguém.
Sentei-me na mesa do costume, há quanto tempo…
E do fundo da sala chegaste tu, levantei os olhos e eras tu. Os nossos olhares humedeceram. Estavas velho, estudei-te cada ruga nesses instantes que pareceram dias.
Ficaste envergonhado, trataste-me por você. Pedi que te sentasses, agarrei-te as mãos e abri a boca apenas para te dizer: amo-te, desde sempre.
Sorriste e soube que me amavas quando coraste.
Tenho 30 anos e tu mais 30 que eu e sei que fomos feitos para sermos um só.
Divorciei-me, a miúda batizou-se e também te ama. És viúvo e tens filhos mais velhos que eu. O meu pai deixou de te falar. Oiço nas nossas costas, que horror, um velho com uma miúda, não têm vergonha…
E não tenho, sou feliz ao teu lado meu amor, meu velho, meu grande amor.
Autoria: Ana Caçapo, Co-fundadora da Cabelos Brancos
Ilustração de Janice Fried