
Turismo para “novos velhos”
O turismo tem sido objecto de profundas transformações nos últimos anos.
Podemos identificar quatro premissas para a concepção de programas turísticos: espaço (o destino), tempo (as épocas do ano), finalidade (recreio, repouso, cultura, desporto, negócios, política, saúde, religião, etc.) e público-alvo (género – quando aplicado – e faixa etária dos indivíduos).
Uma das principais causas das transformações que se têm vindo a observar no turismo reside justamente na quarta premissa: o público-alvo. O que temos vindo a constatar é que a definição de turista mudou. O turista tornou-se um viajante autónomo, que em vez da submissão a pacotes idealizados por entidades externas (as actualmente em risco de extinção agências de viagens), passou a assumir um papel bastante activo, tanto no planeamento das suas viagens, como na forma como encara a experiência do turismo, vendo-o como um processo de enculturação. O desenvolvimento da sociedade da informação, nomeadamente o vasto uso da internet, influenciou decisivamente o surgimento deste turista mais independente. Este fenómeno trouxe também mudanças à oferta de alojamento. Exemplos disto são os hostels e os apartamentos que podem ser alugados por curtas temporadas nos centros urbanos.
Ainda dentro do público-alvo, se nos debruçarmos sobre as faixas-etárias dos indivíduos, constatamos que, por exemplo, na Europa existem já mais idosos (>65 anos de idade) do que crianças, representando cerca de um sexto da população europeia. Estima-se que em 2025 a largura máxima da pirâmide etária seja composta por pessoas mais idosas.
Assim, de acordo com a Organização Mundial do Turismo (OMC), algumas tendências do mercado do turismo em 2020 passam pelo aumento de turistas idosos, pela mudança das chamadas férias mais activas, para férias baseadas em experiências (com maior qualidade e sofisticação) e uma segmentação cada vez mais complexa da procura para fazer face aos diferentes objectivos ou tipos de turismo (por exemplo: turismo urbano e cultural, turismo de praia e turismo rural – que tem vindo a ganhar adeptos na variante do ecoturismo).
O futuro passará, assim, por uma aposta cada vez maior no turismo para “novos velhos”, alargando e complexizando a oferta de soluções que vão de encontro à faixa de indivíduos com idades acima dos 55 anos. E se a tendência para o envelhecimento da população se manter, este segmento passará a ser a maior fonte de receitas do turismo a nível mundial.
Ana Godinho de Vasconcelos
Socióloga
