
NÃO, SER VELHO NÃO O NOVO JOVEM!
Em vários projetos na área do envelhecimento prolifera a expressão “Old is the new young”. Esta tornou-se numa afirmação que virou moda e um movimento revolucionário conotado como máxima de inovação social.
A gravidade desta moda torna-se ainda mais assustadora quando esta é assumida por instituições sociais e académicas com renome e prestígio nas questões do envelhecimento e intergeracionalidade. Afirmar que “ser velho é o novo jovem” é simplesmente a substituição de velhos estereótipos por novos estereótipos.
Por exemplo, a imagem do velhinho reformado sentado num banco de jardim profundamente triste, ou a imagem da velhota toda vestida de preto e desdentada à espera de uma mão caridosa, foram substituídas por “imagens positivas” de envelhecimento ativo que tem que ser bem sucedido.
O velho para ser considerado pessoa tem que travar o envelhecimento e assemelhar-se a um jovem. Vestir-se de forma jovial, fazer coisas radicais como andar de skate, correr uma maratona, saltar de paraquedas, ser irreverente e cool, enfim, os clichés são infindáveis.
A questão da linguagem no combate ao idadismo − discriminação com base no fator idade − é crucial na desmistificação de estereótipos e estigmas que estão conectados ao processo de envelhecimento.
Antes que me crucifiquem, não defendo que as pessoas mais velhas devam viver no passado e isoladas do mundo atual. Mas ser velho não é ser jovem!
Aliás as tais “imagens positivas” que se querem delinear sobre a velhice são de uma pressão inaceitável. Se eu chegar aos 70 anos e usar bengala e aparelho auditivo serei considerada certamente um fracasso. O meu envelhecimento não será considerado bem sucedido − apesar de ao longo de todo o meu percurso de vida − encaixar nos critérios da vivência de uma vida ativa, consciente e responsável.
Ser velho é ser velho! O combate ao preconceito e discriminação deveria começa exatamente pela aceitação do avançar da idade.
Os jovens é que deveriam ambicionar chegar a velhos e ter referências de pessoas mais velhas que assumem a sua idade e a sua identidade, sem falseamentos de uma perpetuação da juventude.
Há tantos anos que ouço dizer que o envelhecimento populacional é um fenómeno e desafio global, no qual tem que existir um novo paradigma, novas abordagens e soluções de integração e melhoria da qualidade de vida.
Mas observando as novas abordagens que se foram consolidando para a tal mudança do paradigma, constato que os avanços têm sido lentos e nalguns casos promotores de novos estigmas e estereótipos.
Velho tem um peso tão pejorativo na nossa sociedade, com origens ancestrais, que a forma que se arranja de ver o velho como pessoa plena é transformá-lo num jovem para ser aceite no mundo contemporâneo.
Temos de parar com esta loucura! Temos de ter a liberdade de querermos ser e fazer o que nos apetece em qualquer idade.
Tenho 40 anos e não gosto de desportos radicais. Sinceramente é algo que não me atrai e possivelmente nunca me irá entusiasmar. Não quero ser a velhinha troféu que é alvo de uma notícia porque simplesmente fez rappel com 90 anos.
“Old is the new young” é algo que devemos definitivamente abolir da nossa linguagem e forma de encarar o envelhecimento!
Perguntam-me muitas vezes como se combate o idadismo. Aqui vai a uma simples prática que todos deveriam assumir e afirmar:
“Eu não quero ser jovem e assumo com orgulho a idade que tenho!”
Texto de Luísa Pinheiro, Co-fundadora da Cabelos Brancos
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