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Fiz 40 anos. E bateu-me forte.

Em agosto celebrei os míticos 40 anos. O dia do meu aniversário sempre foi o meu dia favorito do ano. Agora que já passou quase um mês, dou por mim a pensar na angústia que senti nos tempos que precederam este marco.

A minha ligação com o envelhecimento começou desde miúda. Pensava que era a velhice que trazia a morte. Até ao dia, em que por volta dos meus 10 anos, perdi o meu melhor amigo de infância, num acidente trágico. Nunca me tinham dito que a morte não escolhia idades. Foi o primeiro funeral da minha existência e um ponto de viragem.

Questões sobre a vida e a morte passaram a ocupar a minha cabeça. Estas interrogações não tinham respostas, mas nunca as deixei de procurar.

Quando fundámos a Cabelos Brancos perguntávam-nos frequentemente se o tínhamos feito pelos nossos avós ou pais… Ninguém equipara a vida a um processo individual de envelhecimento e desenvolvimento contínuo. Como disse Simone de Beauvoir “Viver é envelhecer, nada mais”. Como é que esta verdade não é ensinada e interiorizada?

Os 40 anos trouxeram incertezas e inseguranças, que eu nunca julguei que me pudessem atingir…

Meio a sério, meio a brincar, ouvi comentários como: “Agora vais ver que tudo vai começar a piorar, as pernas inchadas, as meias de descanso, as varizes, a meia idade é tramada.”

Mas também ouvi elogios: “Não pareces nada ter 40 anos, estás ótima!”

Qual é a mulher que não gosta de ouvir dizer que está bem? Contudo, este tipo de elogio é um pau de dois bicos. Dizem-nos que somos atraentes porque continuamos a ter um ar jovem e combatemos com sucesso o envelhecimento. Cada pessoa envelhece de modo diferente, tem a ver com características genéticas, biológicas, com condições sociais e económicas. É o resultado da combinação de múltiplos fatores.

O elogio deveria passar simplesmente por “És bonita”. Parágrafo. Sem termos de comparação.

Porém, o que me assustou realmente foi sentir que “envelhecer mulher”, é uma dupla discriminação que alia o sexismo ao idadismo.

Relembraram-me que não tenho filhos, que o prazo para assumir a maternidade está a esgotar-se… Fizeram-me refletir sobre as conquistas que “supostamente” já deveriam ter sido alcançadas com os meus 40 anos…

Sim, o mundo evoluiu e existem muitas normas sociais que foram derrubadas, todavia, de maneira subtil ou descarada, continuam a existir formas de validação social nas diversas fases do ciclo de vida.

Um dos maiores receios dos 40 é que numa situação de desemprego, toda a sociedade assume que é muito difícil voltar ao mercado de trabalho. A maioria dos anúncios de emprego têm requisitos como idade limite, pessoa jovem e dinâmica, boa aparência, enfim, uma série de condições inconstitucionais, que excluem uma boa parte da população portuguesa. O direito à igualdade no acesso ao emprego e ao trabalho é um direito à vida e à dignidade humana. Tem que ser reivindicado e amplamente discutido.

Os 40 anos podem ser a primeira fase da escalada para a invisibilidade. Medo de deixarmos de ser atraentes, medo de não conseguirmos encontrar ou mudar de emprego, medo de não conseguirmos encontrar um parceiro sexual ou amoroso, medo de não conseguirmos cumprir os nossos sonhos, medo de passarmos a ser transparentes…

Conheço-me bem: sei quem sou, do que sou capaz, estou segura do caminho que quero percorrer. Então, porque é que este ano, tudo foi diferente? Analisei todas as questões e surgiu uma resposta que me custou admitir: apesar, das minhas certezas e forças, tenho medos e inseguranças, como qualquer ser humano. Temi a absoluta invisibilidade.

O sentido da vida com 40 anos? Não sei, não tenho respostas brilhantes ou certeiras.

Podemos não saber, mas nunca devemos desistir de tentar vencer os nossos medos.

É esta luta que nos devolve a luz que vem de dentro, sempre.

Texto de Luísa Pinheiro, Co-fundadora da Cabelos Brancos

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